Controlar tudo pode parecer segurança — mas, na verdade, pode esconder medo, ansiedade e dificuldade de confiar.
Vivemos em uma sociedade que valoriza o desempenho, a previsibilidade e o autocontrole. Ser organizado, produtivo e responsável é visto como virtude. No entanto, quando o controle se torna excessivo, ele deixa de ser funcional e passa a aprisionar.
Pessoas que precisam ter controle absoluto sobre tudo — sobre as emoções, os vínculos, o futuro, o ambiente — muitas vezes estão lidando com angústias profundas. É como se, ao dominar o que está fora, pudessem evitar o que sentem por dentro.
O que há por trás da necessidade de controle?
Na perspectiva psicanalítica, o desejo de controle costuma estar ligado à experiências precoces de insegurança emocional. Quando o sujeito viveu situações de instabilidade, abandono ou imprevisibilidade afetiva, pode desenvolver mecanismos rígidos de defesa para se proteger de novas dores.
O controle passa a ser um modo de sobreviver. Mas, com o tempo, esse mecanismo cobra um preço alto: dificuldade em lidar com imprevistos, sofrimento diante de mudanças, sobrecarga emocional, sensação constante de alerta.
Winnicott nos ensina que a saúde psíquica envolve a capacidade de brincar, de ser espontâneo, de viver a partir do verdadeiro self. O excesso de controle, ao contrário, sufoca a espontaneidade. O sujeito vive como se estivesse sempre no comando, mas, por dentro, sente-se exausto.
Quando o controle atrapalha os vínculos
Pessoas muito controladoras tendem a sofrer nas relações. Esperam respostas exatas, têm dificuldade em lidar com a diferença e sentem-se ameaçadas por qualquer sinal de autonomia alheia. Isso pode gerar conflitos, afastamentos e solidão.
Além disso, a tentativa constante de prever e evitar o sofrimento impede que o sujeito experimente a vida com mais leveza. Tudo se torna cálculo, risco, estratégia. E, com isso, perde-se a capacidade de confiar — nos outros, na vida e em si mesmo.
A psicoterapia como espaço de confiança
Na escuta terapêutica, o sujeito é convidado a relaxar suas defesas, a entrar em contato com aquilo que precisa tanto ser controlado. Em vez de julgar ou corrigir, o analista sustenta o espaço onde os afetos podem emergir — inclusive o medo, a fragilidade, a raiva.
Aos poucos, a necessidade de controle vai cedendo lugar à confiança. Não porque o mundo se tornou previsível, mas porque o sujeito fortaleceu sua capacidade de sustentar o inesperado. Ele aprende a viver com mais liberdade, mesmo em meio à incerteza.
Controlar tudo cansa — e não impede o sofrimento
Se você sente que precisa estar sempre no comando, talvez esteja tentando evitar uma dor que precisa ser escutada. A psicoterapia pode te ajudar a compreender essa necessidade, a entrar em contato com o que ela encobre e a construir novas formas de existir.
Você não precisa controlar tudo. Você precisa ser acolhido.
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